Texto: Mariana Ciscato (@mariciscato).
Eu sou de uma geração que cresceu acreditando num roteiro muito bem desenhado: os 20 anos seriam a melhor fase da vida e, aos 30, tudo finalmente se resolveria – carreira, casamento, filhos, CPF regularizado e emocional sob controle.
Dos 18 aos 28 era o momento de viver intensamente tudo o que a maioridade permitia: fazer besteira, tentar de novo, improvisar sem culpa. Afinal, éramos jovens e a vida estava só começando. Mas, ao mesmo tempo, era também a década de construir uma carreira, conhecer o amor da vida e iniciar o financiamento da casa própria.
Por quê? Bem, porque aos 30 já estaria tarde demais pra isso. Aos 30, diziam, já deveríamos estar com a família formada, casa garantida e carreira sólida.
Se você pensou que a conta não fecha, bingo!
Não fecha mesmo e nem foi feita pra se encaixar. A verdade é que os 20 são uma mistura de improviso e sobrevivência. Ainda é difícil distinguir o que a gente realmente quer do que esperam que a gente queira. Passamos uma década tentando achar nosso lugar no mundo enquanto aprendemos a marcar consultas por conta própria e a diferença entre CLT e PJ.
Eu faço 30 daqui alguns meses. Tenho amigos que já passaram desse marco e outros que estão quase lá. E, se olhar bem, ainda tá todo mundo se encontrando nesse mundão. Tem amiga sendo mãe e outra morando com os pais. Tem quem faça intercâmbio, quem abra negócio, quem compre casa no interior e quem venda tudo pra cair na estrada.
Penso que os 30 serão uma extensão dos 20 com um círculo de amigos mais restrito, um pouco mais de cuidado com bebidas duvidosas e uma posição política mais clara. O resto é expectativa alheia.
A verdade é que nada precisa estar resolvido — nem nos 20, nem nos 30, 40 ou 50.
A gente vai ficando mais experiente, claro. Mais atenta aos sinais. Mais rápida para perceber ciladas que antes levariam meses. Mas sabedoria não significa imunidade a mudanças. A vida continua abrindo novas portas, fechando outras, puxando tapetes e oferecendo começos inesperados.
Com o tempo, entendemos que não existe um capítulo definitivo. Que sempre dá pra recomeçar, mesmo quando parece tarde demais. Que mudar de ideia é uma delícia e recalcular a rota é libertador.
A gente cresce achando que o objetivo é resolver a vida. Mas, quanto mais caminhamos, mais claro fica que o ponto nunca foi esse. O ponto é viver. É experimentar. É ser feliz do jeito que der, no tempo que der, com os recursos emocionais que tivermos naquele momento.
A canção de Billy Joel bombou recentemente no TikTok e não é surpreendente: ela é um tapa na cara da nossa faixa etária. “vá devagar, sua criança louca”, ele diz – tem algo mais valioso que um conselho sincero desse?











Deixe o Seu Comentário