Texto: Mariana Ciscato (@mariciscato).
Desde pequena, sempre fui curiosa. Não era do tipo que desmontava brinquedos, mas a que fazia perguntas demais. Eu queria entender o porquê das coisas e, se ninguém soubesse responder, eu ia atrás. Via TV, observava os adultos, anotava nomes, prestava atenção em tudo. Mais tarde, com a internet, esse hábito virou método: pesquisar, comparar, abrir abas infinitas.
Já fiz curso de web design, cerâmica, violão e até ginástica rítmica. Estudo inglês, italiano e xadrez no Duolingo até. Por muito tempo, achei que essa vontade de experimentar fosse falta de foco. Hoje vejo que era só curiosidade. Uma inquietude que me acompanha e que, no fundo, me protege da monotonia.
Fuçar é um verbo que tem uma certa má reputação. Parece sinônimo de intromissão, de quem não se contenta em deixar tudo quieto no lugar. Mas eu gosto dele justamente por isso. Porque fuçar é se recusar a aceitar a superfície. É um jeito de dizer: “tem mais coisa aqui, eu sei que tem”.
No trabalho, fuçar é o que me faz descobrir soluções que não estavam no manual. Na pesquisa, é o que me leva a navegar por textos densos só pra entender o que, afinal, alguém quis dizer com “dispositivo de racialidade”. E na vida, se expande em leituras, podcasts, vídeos e curiosidades aleatórias que me levam pra lugares que eu nem sabia que queria conhecer.
Tem quem chame de curiosidade. Eu chamo de sobrevivência. Em um mundo que anda tão rápido, com respostas prontas e quase ninguém com tempo de perguntar “por quê?”, fuçar é um pequeno ato de resistência.
Talvez por isso eu ainda goste tanto de observar as crianças. Elas são especialistas em fuçar o mundo. Não têm vergonha de perguntar, de experimentar, de olhar de novo. E penso que, se eu conseguir manter esse olhar curioso, talvez continue encontrando sentido nas coisas.











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