Éramos três casais jovens, amigos desde o colégio. Uma vez por mês, ou a cada três, ninguém nunca foi muito rigoroso com datas, nos reuníamos na casa da Clara para a noite do hambúrguer.
Os homens iam para a cozinha, cercados de panelas, grelhas e de uma importância que não nos cabia. Remexíamos a carne, inventávamos molhos e sentíamos, ao mesmo tempo, orgulho e desamparo. Do sofá, as mulheres bebiam e nos observavam como quem observa animais no zoológico, com uma mistura de curiosidade e piedade.
Quando chegou a hora da batata frita, o aperitivo inaugural, o clima já estava carregado de ansiedade. “Está oleosa demais”, comentou uma ex-namorada. Eu concordei, pois a tentativa de impressionar só tinha produzido uma lagoa de óleo dourado no fogão da mãe da Clara.
O hambúrguer enfim ficou pronto. Comemos em silêncio e, ali, silêncio nunca foi bom sinal. Quando os pratos se esvaziaram, alguém, tentando salvar a noite do desastre culinário, sugeriu um jogo. Era simples: perguntas sobre o outro, seus gostos, suas manias. Aceitamos com entusiasmo infantil. Parecia divertido. Parecia inofensivo.
Que engano.
Pergunta vai, pergunta vem, e descobrimos que não sabíamos o nome do cachorro de estimação que o parceiro sonhava ter, nem lembrávamos do filme que arrancara lágrimas na última sessão. A comida preferida virou uma loteria: lasanha ou estrogonofe? E a viagem dos sonhos: Patagônia ou Roma? Cada resposta errada pesava mais que o hambúrguer bem passado.
Foi a última noite da tradição. Dois meses depois, tempo suficiente para remoer cada resposta errada, todos os casais se separaram. Culpa do quiz.











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