Texto: Elias Cavalcante (@eliacavalcante)
Não tenho dados, gráficos, planilhas do IBGE nem estudo da FGV, mas desconfio, e desconfiança também é um tipo de método, que o Brasil é hoje o país com o maior número de pessoas correndo no mundo.
Nunca se correu tanto.
E não é só correr de ônibus, do trabalho, da conta de luz atrasada, do aluguel prestes a vencer; é correr de verdade, com tênis colorido de amortecimento importado, relógio que mede batimento cardíaco, aplicativo que posta em tempo real o trajeto, a distância, as calorias.
Correm para cima, correm para baixo, correm na praia, correm no parque, correm na rua, correm na esteira de casa, correm em jejum, correm depois do brunch, correm de fone sem fio e correm ouvindo podcast sobre como correr melhor. Meu Deus, para onde vai toda essa gente correndo tanto? É fuga ou busca? Desespero ou esperança?
Quando inventaram o beach tennis e encheram as areias de gente com aqueles óculos que fazem qualquer executivo de São Paulo parecer mosquito da dengue, eu saquei na hora que era modinha. Mas a corrida parece ter vindo para ficar. Ela é o pagode do esporte: no começo você acha meio esquisito, depois começa a bater o pé, e quando percebe, está cantando junto.
Seria um projeto nacional do governo, “minha endorfina, minha vida”? Uma espécie de PAC do suor? Seria uma seita com fiéis recitando palavras estranhas, como pace, downhill, cadência, recovery? Seria um grande esquema de pirâmide, em que você começa comprando um tênis, de repente precisa de roupa, planilha, consultoria, suplemento, fisioterapia, inscrição para a maratona?
Não sei. Nunca saberemos. A não ser, claro, que a Polícia Federal resolva investigar, o que é improvável, pois desconfio que eles também estejam envolvidos.











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