Texto: Elias Cavalcante.
Andava pelas ruas de Paris contente da vida até que me deu sede e resolvi comprar uma garrafa d’água. Abri e dei um gole grande, esperando a frescura que a água promete, veio um gosto estranho, doce e azedo ao mesmo tempo, intragável. Tentei mais uma vez com a esperança de que a primeira impressão fosse injusta, mas nada. Deixei a água de lado, peguei uma cerveja e segui. Com Heineken a 1 euro, dava pra se manter feliz e hidratado.
Andei quinze quilômetros pela cidade luz. Almocei e jantei, visitei livrarias e museus, tomei vinhos e sorvetes.
Chegando ao hotel já era noite, e o gosto da água continuava me perseguindo. Foi o suficiente para gerar idas ao banheiro, que vou poupar os leitores de detalhes, mas posso garantir: em todas elas, e foram muitas, eu rezava para sair vivo.
Minha esposa (bendita seja ela) começou a pesquisar quais remédios dava para comprar sem receita, enquanto eu descobria que em francês a famigerada caganeira se chamava diarrhée. E por ser uma palavra tão bonita e sonora, decidi que não me sentiria envergonhado em admitir: tenho diarrhée, monsieur.
A farmácia ficava a dois quarteirões do hotel, sete minutos no máximo, pouco tempo para a vida, uma eternidade para o intestino.
O farmacêutico, simpático, percebeu no meu rosto o sofrimento contido de quem já não sabe se pede remédio ou extrema-unção. Sem hesitar, ele disse que aquele era o comprimido certo, depois começou a listar tudo o que eu devia evitar comer, com uma paciência paternal. Engoli dois de uma vez, com suco de laranja, porque tinha jurado que água, só no Brasil. Viva a Sabesp.
Voltei pro hotel sentindo um leve alívio, ou talvez fosse só placebo misturado com esperança. Deitei na cama, fechei os olhos e pensei: agora sim, amanhã estarei andando novamente por Paris como um flâneur, parando em cada esquina para tomar café e fumar cigarros sem pressa.
Que engano.











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