Texto: Elias Cavalcante.
O mundo está colapsando. Isso já nem é notícia, virou tipo previsão do tempo em São Paulo: chove, faz sol, o apocalipse dá uma passadinha e à tarde abre um arco-íris sobre os escombros. Mas eu tenho uma teoria, nada científico, claro, aqui é tudo empirismo e intuição. Acho que por estarmos nesse vácuo entre o fim e o pós-fim, decidimos resolver tudo na base da porrada.
Os sinais estão aí. Famoso lutando boxe com outro famoso, ex-BBB tentando nocautear ex-Fazenda, influencer chamando o vizinho pra trocação e o país inteiro acompanhando, torcendo, comentando “mereceu”, “apanhou pouco”, “podia ter sido no pay-per-view”.
A impressão é que todo mundo anda a um empurrão de sair na mão. Qualquer fila, vaga de estacionamento ou comentário nas redes sociais é motivo pra treta. Tem gente brigando no trânsito, no show, na academia. Virou esporte nacional.
Você abre o Instagram e lá está: briga, briga, briga. Outro dia foi o Popó contra Wanderlei Silva, dois veteranos da pancadaria profissional, trocando socos por quatro assaltos até que Wanderlei foi desclassificado por excesso de faltas. Cinco segundos depois, estavam se esmurrando de novo, como se ainda houvesse um ressentimento que não coubesse no regulamento.
Viramos uma sociedade que acorda, pega o celular e antes mesmo do café pensa: “vamos ver quem se bateu hoje”.
Quando criança, eu também resolvia muita coisa no tapa. Eu e meu irmão, um ano mais novo, passávamos a infância alternando entre PlayStation, chute no estômago e soco na nuca. Durou até os treze mais ou menos, época que ele começou a treinar jiu-jítsu. A partir daí, percebi que o diálogo, a comunicação civilizada, a retórica grega e, sobretudo, a covardia, eram ferramentas muito mais adequadas pra mim.
Se é verdade que a civilização começou com um sujeito desenhando numa parede de caverna, talvez ela termine com dois influencers se estapeando num octógono patrocinado por uma marca de energético.











Deixe o Seu Comentário